Estudo



Nossa proposta de Estudo


O marco legal da PNLE e nossa proposta de Educação

Através do Projeto de Lei Nº 13.696/2018, foi instituída a Política Nacional de Leitura e Escrita, marco na produção de instrumentos legais cujo histórico indica uma preocupação crescente com o desenvolvimento das capacidades da ler e escrever para o exercício da cidadania. Ao propor a formação de parcerias entre a União, os Estados e a Sociedade Civil, a PNLE ratifica o papel do setor público no fomento de iniciativas culturais, das quais o cidadão não apenas deve ser o seu beneficiário, como ainda o seu partícipe.

É no âmbito desse marco legal que apresentamos nossa proposta de Educação através da Leitura e da Escrita, proposta em tudo afeita aos objetivos da PNLE em seu artigo 3º, sobretudo nos indicados pelos incisos I, II, VIII e X.

Entendemos a linguagem humana, realizada através do discurso como vinculação indissociável entre pensamento e fala, o território por excelência da constituição do humano, das humanidades, e por isso, fator decisivo para o exercício satisfatório da cidadania e do reconhecimento de nossa condição humana orientada por direitos fundamentais. Nesse sentido, identificamos na literatura o tesouro textual de que dispomos para: 1. desenvolver as afinidades discursivas com a língua, com sua expressividade e suas potencialidades interpretativas; 2. desenvolver as capacidades de assimilação simbólica do discurso por meio da prática e da orientação da leitura; 3. desenvolver as capacidades de compreensão e expressão simbólicas do discurso por meio da prática e da orientação da escrita.

A consideração do discurso, como território das humanidades e do humanismo, não é nova. Ao propor a PNLE, o Congresso brasileiro ratifica a sabedoria milenar de que, sem uma familiaridade com a técnica e a tecnologia do texto, estaremos de certo modo alijados da prática em comum de uma cultura à qual pertencemos e da qual dependemos para fazer corresponder nossos interesses com os do bem comum. É no intuito de realizarmos o quanto antes as diretrizes da PNLE que precisamos perceber, todos nós, a importância da valorização de iniciativas feitas no âmbito da leitura e da escrita, de maneira que possamos, enquanto Sociedade Civil interessada em sua formação como um direito fundamental, iniciar as atividades que pretendem provocar a esfera pública à implementação das políticas públicas capazes de viabilizar os objetivos propostos pela PNLE.



O contexto de pandemia e a autoeducação

Propomos uma educação através da leitura e da escrita. O período de crise mundial que temos enfrentado desde o surgimento da Covid-19, causada pelo novo coronavírus, levou a que parte significativa da população tivesse que seguir sua rotina diária dentre de sua própria casa. Para muitos, estar confinado em casa foi um alívio e um descanso; para outros, uma sobrecarga alienante e tediosa; para tantos mais, um inferno.

Dentre as atividades que mais sofreram com isso, a educação e o ensino perderam cada vez mais espaço no cotidiano do brasileiro. Nós, um país de poucos leitores e de amantes dos diplomas, iremos sofrer os mais terríveis fracassos nos índices que pretendem mensurar nossa cultura escolar e universitária. Parte disso, deve-se ao pouco ou quase nulo costume de haver alunos e docentes a se dedicarem por si mesmos à tarefa da própria educação. Não havendo aulas, não há estudo; e com isso, nada aprendo. Eis um terrível engano: a educação depende mais de nosso próprio empenho do que de qualquer educador.

Para saber mais

Tratei filosoficamente da importância do protagonismo do educando neste ensaio.



O que é autoeducação? - A escola e o ensino

"Escola" é uma palavra portuguesa que remete ao termo grego skholé, que significa tempo livre, ócio. Na Grécia antiga, esse tempo livre, que era constantemente oposto ao tempo de trabalho braçal dos escravos, era utilizado com fins de promover exercícios físicos, para a saúde do corpo, e de oferecer diversas formas de arte e conhecimento, exercícios dedicados às coisas do espírito e ao cuidado de si, cuja realização máxima encontrava-se em última análise na filosofia, entendida como uma preparação para a ação no âmbito da comunidade humana, a fim de oferecer ao homem a possibilidade de ser livre e feliz.

Foi com esse intuito que surgiram no século IV a. C em Atenas os primeiros modelos de Escola, no sentido que hoje damos à palavra. As duas mais importantes instituições dedicadas aos exercícios do cultivo de si foram a Escola de Isócrates e a Academia de Platão que, embora possuíssem afinidade quanto ao objetivo de formação do espírito e ao conteúdo de certos saberes, eram distintas em termos de ideal de homem a ser formado e de fundamentos para determinados conhecimentos. Devido a essas diferenças, acabou-se por situar uma escola, a de Platão, como modelo para a Filosofia, ao passo que a de Isócrates teve sua importância como escola de Retórica. Isso já mostra de que modo a Filosofia, como o saber humanamente mais amplo possível, está posta em estreita relação com a Retórica, enquanto arte da expressão e do convencimento.

A separação de ambas levou a que se pensasse ora na soberania da Filosofia, ora da Retórica, em um embate que persiste até hoje, com a presença das Ciências e de sua dinâmica própria de produção e de divulgação. Antes disso, as diversas artes e seus exercícios para o espírito só alcançaram uma unidade de conteúdo e de finalidade durante a Idade Média, em que a educação do espírito tornou-se tarefa das chamadas Artes Liberais – reunião dos principais conteúdos de ensino com vistas ao desenvolvimento da capacidade do espírito humano de bem preparar-se para o mundo cultural e intelectual. As Artes Liberais tinham dois âmbitos de aplicação, separados em função de sua finalidade:


Philosophia et septem artes liberales

Trivium – As três Artes do Discurso

Gramática (Arte do Discurso Correto)
Lógica (Arte do Discurso Verdadeiro)
Retórica (Arte do Discurso Eficiente)

Quadrivium – As quatro Artes da Matéria

Aritmética (Arte da Medida Numérica)
Música (Arte dos Números no Tempo, harmonia)
Geometria (Arte da Medida Espacial)
Astronomia (Arte do Espaço Físico)


A ideia era a de que uma escola precisava proporcionar um conjunto de exercícios e de técnicas capazes de cultivar no discípulo não apenas o apreço pelo cuidado do espírito, mas também as condições para bem utilizá-lo. Era, nesse sentido, a sua porta de entrada ao mundo social e humano, intelectual e cultural.

Na época moderna, tais esferas de ensino tenderam a se tornar estanques, desconectadas de uma formação humana unificada, a fim de compor variados diplomas de especialidades profissionais. A divisão social do trabalho, apregoada como fundamental ao desenvolvimento técnico das sociedades, atingiu o âmbito da formação cultural no ocidente, produzindo uma divisão dos saberes que continua a impedir, ou ao menos dificulta em muito, a condição para que se possa outra vez integrá-los.

A proposta a que nos dedicamos aqui é produzir, na medida do possível, uma integração dos saberes, sob a unidade possível pertencente ao Discurso enquanto instrumento de ensino, reatualizando não só as Artes Liberais do Trivium, como também os esforços dos Exercícios Espirituais das escolas filosóficas do helenismo e as modernas reflexões da Crítica Literária, de modo a tornar possível a formação e a educação do espírito pelo cultivo da Leitura e da Escrita. Com isso, não pretendemos apenas oferecer técnicas para bem ler e escrever, mas sobretudo demonstrar que por meio delas é possível alcançar uma maior compreensão de si a partir da dedicação em cuidar do próprio espírito.

Para saber mais:




Sobre uma educação pela leitura e pela escrita


Existe um tipo de educação que Henri Marrou havia chamado, em sua clássica obra sobre a educação na antiguidade (História da Educação na Antiguidade, 1973), de educação de escriba: quer dizer, um processo de formação que abrange tanto a leitura e exercícios de escrita, quanto uma familiaridade com a linguagem textual que quase sempre é mais organizada e mais técnica que a linguagem oral. 

Oposta, portanto, à tradição educacional que se baseia na oralidade, a cultura de escriba é aquela que se baseia no cultivo livresco e discursivo, sobretudo escrito, onde é valorizado o domínio dos segredos da escrita, levando sempre em consideração toda a complexidade que está envolvida nesta tarefa. Não por acaso, as sociedades antigas valorizavam a escrita como atividade sagrada, uma capacidade humana de materializar pensamentos e de organizar, primeiramente a economia contábil das transações comerciais, depois as narrativas concernentes às origens da mundo e do próprio homem. 

Em grego, o termo lógos possui essa dupla capacidade: a de calcular e a de narrar, denotando na razão, o termo latino que se costuma usar para traduzir lógos, aquilo que é propriamente sua qualidade de relacionar elementos entre si em face de um dado princípio. É por esse motivo que costumamos dizer que a razão humana é capaz de descrever a razão de ser das coisas, ao mesmo tempo em que calcula para chegar a uma razão finalLinguagem e razão são apenas dois aspectos de uma mesma capacidade existente em nós.

De algum modo, o avanço possibilitado pela escrita confere maior poder à nossa própria linguagem, e por isso mesmo também à nossa razão. Não só aumentamos consideravelmente a nossa capacidade de armazenar informações e de melhor elaborá-las em uma forma de dizer que lhes corresponda, como também vimos crescer a complexidade das elaborações racionais envolvidas tanto no cálculo quanto na narração. Se à complexidade do cálculo demos o nome de matemática, à da narração chamamos de literatura. Exercitar-se quer na matemática, quer na literatura, é ampliar nossa capacidade racional.

É exatamente o que propomos neste site. Por meio da literatura, queremos mostrar uma maneira de obter educação a partir do desenvolvimento da nossa razão, que nos torna mais aptos aos desafios da vida natural e social em qualquer área. Por esse motivo, acreditamos que a educação de escriba é um meio de melhorar o desempenho em qualquer atividade humana, desde a religiosa até a do cotidiano do lar. Para tanto, basta o esforço e a dedicação de separar alguns minutos do seu dia para concentrar sua atenção sobre a arte de ler e de escrever. Garanto a você que não será tempo perdido.

Sendo assim, e parafraseando Platão, "que não entre quem não aprecia os textos"!


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O ponto mais importante para todo aquele que anseia iniciar seus estudos é saber sempre por onde deveria começar. Em termos de uma cultura literária, a pergunta se volta para a indicação de qual tipo de livros é preciso ler primeiro, quais títulos são melhores que outros, como seguir uma ordem que seja proveitosa para o crescimento pessoal, e mesmo quais livros jamais deveríamos deixar de ler.

Pois bem, é bastante difícil propor um método que sirva igualmente bem para todo tipo de pessoa interessada em livros. Geralmente, os leitores seguem um caminho casual, quase sempre regido pelas indicações de amigos, professores e pelo que se houve falar na mídia e se vê, de certa forma, apresentado em propagandas de lojas ou livrarias.

Os passos que aqui serão indicados formam uma sugestão de travessia, que seja o mais simples e fundamental possível, a fim de ser útil ao maior número de pessoas e de proporcionar um encontro menos fortuito e casual com aqueles livros que todos nós deveríamos ler em algum momento da vida


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