Das 4 formas de leitura, por Sertillanges



O livro de A. D. Sertillanges, A vida Intelectual, é obra do mais vivo interesse aos que anseiam por ter uma atividade de estudos melhor, o que significa dizer ter mais aplicação, organização e prazer na leitura. O homem de estudos, como aquele que está dedicado ao esforço de ler para compreender e escrever para ensinar, é definido pelo filósofo francês como dotado de uma vocação. Mas seus conselhos são de tão amplo aspecto e de tantas qualidades que se tornam úteis mesmo a quem se veja tão-somente à procura de uma forma mais produtiva para o exercício, eu diria inescapável, de saber ler e escrever melhor.


Nesse sentido, a organização das leituras em 4 tipos bem característicos pode ajudar, e muito, a termos em mente que o nosso curto tempo deve ser melhor aproveitado. Sertillanges divide-as a partir de graus de aplicação e de atenção, daquelas que requerem mais esforço às que podem ser feitas com mais descontração. Reunindo-as do graus mais descontraído ao mais intenso, e oferecendo alguns exemplos pessoais para melhor compreensão das diferenças em cada caso, temos:


1) Leituras de Repouso

São aquelas sobre as quais não é exigida uma aplicação ativa e tensional da mente necessária para compreendê-las, ou porque são livros de fácil entendimento, ou porque são leituras que servem como meios de informação ou para divertimento. 

Geralmente, as leituras de repouso são revistas semanais de notícias, obras literárias de menor profundidade na leitura (livros do Dan Brown ou do Paulo Coelho, por exemplo), além de outros textos esparsos de internet sobre um ou outro tema.


2) Leituras de Consulta

Estas são normalmente obras de referência, que se deve ter à disposição sempre que for preciso realizar um ou outra consulta acerca de um dado importante sobre algum estudo que se está fazendo.

Os dicionários de todos os tipos, enciclopédias, manuais e livros de referência sobre um assunto são os mais comuns em me servirem como leituras de consulta.


3) Leituras de Formação 

São as leituras, por assim dizer, mais importantes para o quesito formativo do leitor, porque trazem os instrumentos intelectuais e as informações mais fundamentais acerca do que é preciso saber e compreender para ser não apenas um bom leitor, mas sobretudo um ser humano melhor.

Minhas leituras formativas preferidas são as de Filosofia e as obras literárias mais clássicas. A obra do Carpeaux sobre a História da Literatura, ou a filosofia de Schopenhauer, ou a obra magna de Proust têm sido hoje exemplos de livros lidos para minha formação. Mas nem todo livro de Filosofia ou de Literatura serve para formar nosso espírito. São, muitas vezes, deformadores, porque em vez de trazerem organização e concentração, causam dispersão e confusão.


4) Leituras de Meditação 

Estas são quase sempre formadas por livros que nos inspiram, que nos servem de estímulo para nossa vida diária e para nossos afazeres, intelectuais ou não. São obras para serem lidas muito devagar, para serem relidas sempre, sem necessidade de que termine nosso diálogo com elas, pois o serviço que prestam não é obtido ao final da leitura, mas durante a convivência. Ter livros para uma contínua convivência é dos prazeres mais gratificantes para a alma.

Minhas leituras meditativas preferidas atualmente são, por exemplo, as de poesia (Camões, Dante), as filosóficas (Platão e Mário F. Santos) e as espirituais (Bagavagita, I Ching).


Segundo a classificação de Sertillanges, e alguns de nossos exemplos, é possível perceber que nem todo livro comporta vários tipos de leitura, enquanto outros podem ser enfocados sobre mais de uma forma de ler. O que certamente se torna proveitoso, e isso para cada pessoa individualmente, é conseguir avaliar que tipos de livro e quais autores são mais propensos a servirem para uma ou outra forma de leitura. A classificação apontada acima é um caminho na compreensão de que os livros esperam de nós posturas diferentes para serem devidamente absorvidos com proveito. Os livros, de fato, estão por aí. Somos nós quem devemos saber nos aproximar melhor deles, a fim de crescermos com a leitura.

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