Aniquilar - Michel Houellebecq

 

Aniquilar, último romance de um dos maiores escritores franceses da atualidade, é perfeitamente ambivalente: para quem não o conheça, aparece como uma porta de entrada à sua obra menos carregada de angústia e mais encorpada de esperança, além de instigar o leitor com um thriller político no melhor estilo Houellebecq. Para quem já o conhece, como eu que li quase todos os seus livros anteriores, essa presença insuspeita da esperança, o lirismo do sexo tornado amor, quase de certo retorno rousseauniano à natureza em razão da doença e da morte, causou no mínimo surpresa.

A surpresa, em parte, foi daquelas que fazem minguar as muitas expectativas. O thriller político, que vinha se compondo desde o início do livro como uma interessante peça na engrenagem da vida de Paul, o protagonista, acaba perdendo sua carga especulativa e irônica após se revelar a doença de Paul. As cenas sexuais, quase pornográficas de seus outros livros, estariam completamente ausentes aqui, não fosse a incrível redescoberta do tesão por um casal já entregue à separação. Por fim, não houve mais outra forma de odiar a humanidade, porque o niilismo terrível de seu livro anterior (Serotonina) é em Aniquilar apenas uma vaga experiência de incorformação.

Sou levado a pensar, portanto, que o autor deliberadamente opta pela vida humana, por se comprazer com o sofrimento humano, ao nos fazer acompanhar de perto a queda das expectativas a que a vida é capaz de nos provocar, para ver através daquela a beleza desta. É essa tonalidade sensível e por vezes bucólica do ritmo final do livro que surpreende os seus leitores, sobretudo aqueles que, com ele, haviam já se desesperado com a espécie humana e com qualquer meio de nos salvar. Mas Houellebecq nos entrega algum fio de esperança -- aquela que, não confundida com as expectativas, evita que sejamos frustrados em não vê-la cumprida. O autor não se entrega, e talvez isso, para uma época como a nossa, seja o que há de mais surpreendente.

Uma surpresa, sem dúvidas, em parte, gratificante.