Um teto todo seu - Virgínia Woolf


 


Minha relação com Virgínia tem décadas. Depois de tanto tempo, retornar a um escrito seu é revigorante.

O ensaio "Um teto todo seu" cheguei a ler apressado, e sem concluí-lo, décadas atrás. Mas ainda consigo sentir as ressonâncias que ele me provocou. Seguem algumas.

Um escritor só tem a liberdade de sê-lo através de suas bases materiais. Isso diz de sua condição financeira, é verdade, mas também fala do corpo e das sensações como tudo o que as palavras devem significar a um poeta.

Assim também, ainda mais, no caso das escritoras. Virgínia põe o dedo na ferida de séculos em que a mulher, a despeito de ser preservada, fora silenciada. A disputa pela própria voz passa pela independência financeira, passa pela liberdade de ser.

Não se trata, naturalmente, de negar a voz dos homens. Trata-se, nas palavras que lhe coube formular, de sermos homens-feminis e mulheres-másculas. Tal como Platão, esse feminista avant la lettre, já havia indicado antes, é preciso que o humano criador produza por meio do que há de complementar entre os sexos e os gêneros.

Trata-se de recusar o sentimento covarde de homens que impedem a voz da mulher com medo de sua pequenez fálica. Toda polarização é venenosa, e é sinal de maturidade não se deixar seduzir por essas falsas dicotomias. É preciso coragem para reconhecer o mérito do outro, seja de que gênero for.

A escrita de Virgínia, sempre poética, faz sentir o lugar que nos cabe, se queremos ouvir o melhor de nós. Às mulheres, ela se faz mestra de primeira hora para o tipo de reivindicação que é preciso sustentar. Aos homens, ela nos mostra o valor de que somos capazes, ao abrirmos mão dos remorsos mais pueris.

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