Traduzir-se com Gullar




Hoje se comemora o dia de nascimento do grande poeta Ferreira Gullar. Gullar nasceu em São Luiz do Maranhão, em 1930, publicou seu primeiro livro, “Um Pouco Acima do Chão”, em 1949. Com o golpe militar, em 1964, foi preso e exilado — passou por Moscou, Santiago, Lima e Buenos Aires, só retornando ao Brasil em 1977. Durante o exilio na Argentina, escreveu sua magnum opus, o “Poema Sujo”, um longo poema, com quase 100 páginas, que foi traduzido em 25 países. Em 1985, pela tradução da peça “Cyrano de Bergerac”, ganhou o prêmio Molière, o mais importante do teatro nacional. Indicado ao Nobel de Literatura em 2002, o escritor acumulou uma série de prêmios literários durante a sua trajetória, com desataque para os Prêmios Jabuti de Ficção e Poesia, e o Prêmio Camões. Em 2014, Gullar foi eleito para a cadeira nº 37 da Academia Brasileira de Letras. Morreu em 4 de dezembro de 2016, aos 86 anos.


Hoje lamento demais não ter um único livro dele para poder autografar, quando o encontrei no CCBB do Rio. Em homenagem a ele, compus meu primeiro livro de poemas, chamado Poemalimpo (2016). Um dos nossos grandes, que precisa ser conhecido, lembrado, relembrado.


Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?



Imagem: Minkkine.

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