Dante - A Divina Comédia

 



Minha vontade para enfrentar a leitura desse monumento literário de Dante, A Divina Comédia, foi despertada ao descobrir que a imagem do pensador, de Rodin, na verdade diz respeito ao poeta, posto bem a frente de uma grotesca representação do Inferno atrás de si, como pode ser vista na imagem dessa postagem. Uma feliz descoberta, que para mim significou toda a abertura espiritual a que a obra de Dante nos conduz, nós que, como o grande poeta, convivemos com nosso Inferno em busca de uma luz que nos esclareça quem somos, que nos salve no Paraíso.

Chegando ao fim dessa homérica, dessa virgiliana travessia, a gente se põe e se expõe, com Dante, diante do inefável, da luminosidade inescapável, que subverte nossas certezas ao oferecê-las com a intensidade da pulsão que nos é, para nós e sobretudo para o poeta, aquela mesma que nos eleva ao Paraíso e a que nos lança ao Inferno, ao mesmo tempo.

A meio-caminho, e para purgar a alma, é preciso sentir, é preciso ver o que nem as palavras, nem os conceitos são capazes de descrever. No percurso de Dante, seu recurso esteve em seguir o poeta Virgílio, mestre de sua arte e de sua alma, até poder substituí-lo pela musa de sua poesia, a divina Beatriz, cuja beleza conduz o poeta à visão fulgurante da Rainha dos Céus, Maria, e da Suprema luminosidade, disposta em 3 círculos impossíveis de mensurar. A alma do poeta se purga em meio a seus versos.

A elevação do poeta à Luz Suprema se traduz na essência da poesia, cujo percurso depende, em etapa inicial, de um poeta como mestre e guia, que será no devido tempo substituída pela musa inspiradora, não mais nove delas, como em Hesíodo, mas uma apenas, a mais bela e completa, aquela que traduz em seu sorriso o único sentido que há em compor versos. A musa da beleza comove a alma para movê-la a se aproximar a cada vez e sempre do que se faz belo eternamente.

O caminho poético é, por essência, um caminho sagrado. Aprendi com Dante que o poeta aprende a exercitar a beleza à medida que a deseja com paixão, que anseia por dizê-la ainda que faltem as palavras, que espera contemplá-la para sempre. A obra de Dante é um guia que eleva por ser tão bela.

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