A vida passa, e isso é permanente


Quem quer que olhe mais atentamente para tudo ao seu redor sabe: as coisas não param! O dia segue a noite, a morte segue a vida, frutos nascem aqui, acolá folhas caem e enfeitam o solo, a terra serve mesmo para plantar, outro momento para colher, chove e depois o céu deslumbra o seu azul, os pássaros que não mais cantam porque se foram foram substituídos por outras melodias. 

Mas não é só no mundo que tudo muda: também somos uma corrente que passa, um rio que não é mais o mesmo, apesar de continuarmos sendo o mesmo rio. Talvez toda a nossa dificuldade em compreender bem que as coisas sempre tem um fim, que o para sempre sempre acaba, esteja na certa continuidade de nós mesmos como espectadores dessas mudanças. Parece que desejamos ardentemente que as coisas durem tal como dura e persiste nossa consciência durante o lapso de tempo de uma vida. Queremos durar, mas tudo em volta fenece, se decompõe, vai embora. 

A eterna novidade de tudo cansa os ombros mais afeitos à continuidade. E então se imagina poder paralisar as vivências e os sentimentos, como conceitos que se usam para indicar nas mudanças o que há de permanente. As criações humanas são nossa forma de fazer com que algo de nós sobreviva, após o ciclo que se encerra. É a maneira pela qual lidamos com a terrível falta de permanência nas coisas. 

Mas pouca gente percebe que toda essa mudança, toda essa novidade não é senão uma experiência maravilhosa de aprendizado e de desenvolvimento. Imaginar por um momento que tudo poderia estar imóvel e em perfeito estado sem alteração alguma, sem nada de novo nem de surpreendente, é ainda mais angustiante que contemplar a mudança. Porque no fundo estamos aqui para aprender, para assimilar com todo o empenho a mudança das coisas como a ilustração mais desafiadora possível do que significa a eternidade. Posto que seja eterno enquanto dure.

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