A terra das Bruzundangas



Bem se sabe que a terra da Bruzundanga, vulgarmente conhecida como Brasil, pertence a um povo, assim, meio ao gosto do instante, do momento. Somos uma terra sem tradição, não porque não tenhamos algo de bom para conservar, mas porque não queremos conservar absolutamente nada. Atrai-nos o novo, salta-nos aos olhos o estrangeiro, do múltiplo e o diverso apenas porque atual. Não temos memória para as boas nem para as más configurações que demos e damos a esse vasto território, e com isso a identidade dos homens que vivem por aqui aparece mesmo ausente, nenhuma. Há que se trazer Lima Barreto de volta, sua crítica ácida e direta, sem meias verdades, para fazer ver nosso cotidiano físico sob a ótica da metafísica - não para nos prender em abstrações etéreas e vazias, longe disso, mas justamente porque sem transcender o atual estado de coisas, sem encará-lo a partir de seu sentido histórico, nada se pode entender. O entendimento é o primeiro passo da ação: era Sócrates sábio incomparável ao mostrar que virtude é conhecimento. Pois então, conheçamos: em primeiro lugar, como viemos parar aqui! E já o livro de Barreto, Os Bruzundangas, é leitura fundamental para conhecermos essa nossa irresistível brasilidade.

"É deveras difícil dizer qualquer coisa sobre a sociedade da Bruzundanga. É difícil porque lá não há verdadeiramente sociedade estável. Em geral, a gente da terra que forma a sociedade só figura e aparece nos lugares do tom, durante muito pouco tempo. Os nomes mudam de trinta em trinta anos, no máximo. Não há, portanto, na sociedade do momento tradição, cultura acumulada e gosto cultivado em um ambiente propício... Pode ser definida a feição geral da sociedade de Bruzundanga com a palavra - medíocre".

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